Por Conselho Federativo Nacional (CFN)
Federação Espírita Brasileira (FEB)
Fundamentação
A Campanha Espírita Permanente de Conscientização Ecológica (CEPCE)[1] fundamenta-se na contribuição que o Espiritismo e o Movimento Espírita podem oferecer para a solução dos atuais problemas socioambientais, com a finalidade de melhoria dos indivíduos e da coletividade. “Espiritismo e Ecologia são ciências afins, sinérgicas, e que sugerem abordagens sistêmicas da realidade”[2], despertando uma visão integral da Natureza, material e espiritual, e da interdependência entre todos os seres.
“705. Por que nem sempre a Terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário?
“É que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. […] (Allan Kardec, O livro dos espíritos.)
“[…] ele, o Espiritismo, mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que conjuga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Faculta assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal […]. (Allan Kardec, O evangelho segundo o espiritismo, cap. 2, it. 7.)”
Se, por um lado, a saúde humana, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), compreende “um estado de completo bem-estar físico, mental e social”, e a saúde ambiental, o campo “da interação entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente”[3], por outro lado, o princípio da sustentabilidade ambiental na Casa Espírita diz respeito à preservação dos ambientes físico e espiritual das instituições, à influência na ordem social e ao uso consciente dos recursos naturais[4].
Para o alcance efetivo desse estado de coisas, importa considerar os benefícios de saúde, ambientais, socioeconômicos e espirituais proporcionados por uma conscientização ecológica que estimule a adoção de hábitos sustentáveis, como, por exemplo: redução do uso de descartáveis; aquisição de produtos locais; promoção de ações de cuidado com o solo e a água; e o incentivo a dietas que reduzam ou eliminem o consumo de produtos de origem animal, em respeito a todos os seres.
Finalidade
Promover a conscientização do cidadão espírita sobre suas responsabilidades perante a Natureza, por meio de uma educação que transcenda os interesses exclusivamente humanos (não-antropocêntrica)
e inclua o direito de viver de todas as espécies (não-especista), oferecendo subsídios teóricos e práticos que contribuam para a mudança individual e coletiva, em prol do equilíbrio dos ecossistemas.
Objetivos
1. Divulgar conteúdos espíritas e científicos que promovam a cultura da paz, a conscientização ecológica e as relações entre ética ambiental, ética animal e Espiritismo;
2. Promover estudos, palestras e eventos doutrinários relacionados à Ecologia, tais como: emergência climática; perda da biodiversidade; consumo consciente; poluição atmosférica e hídrica; desmatamento; degradação do solo; energias renováveis; gestão de resíduos; cidades sustentáveis, entre outros;
3. Estimular práticas que visem à formação de uma cultura ecológica e de sustentabilidade ambiental no Centro Espírita;
4. Propor aos Centros Espíritas ações que contribuam para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU);
5. Elaborar e divulgar materiais informativos de conscientização ecológica à luz do Espiritismo;
6. Estimular a aplicação da ética ecológica no consumo de produtos, serviços e alimentação no Movimento Espírita;
7. Estimular a interlocução entre as áreas funcionais do Centro Espírita para considerar, em seus programas e ações, as questões ecológicas e as éticas ambiental e animal;
8. Promover a conscientização ecológica nas ações evangelizadoras da infância e da juventude; e,
9. Fornecer subsídios teóricos e metodológicos para a formação inicial e continuada de multiplicadores.
Abrangência
A Campanha tem abrangência nacional e caráter permanente, envolvendo todas as Federativas Estaduais e os Centros Espíritas.
Fundamentação doutrinária
“Já não dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? […] Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza.” (Allan Kardec. O livro dos espíritos. Q. 607a).
“Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação? R: Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. […].” (Allan Kardec. O livro dos espíritos. Q. 724).
“No seu estado atual o homem tem direito ilimitado de destruição sobre os animais? R: Esse direito é regulado pela necessidade de prover a sua alimentação e a sua segurança; o abuso jamais foi direito.” (Allan Kardec. O livro dos espíritos. Q. 734).
“Que se deve pensar da destruição, quando ultrapassa os limites que as necessidades e a segurança traçam? Da caça, por exemplo, quando não objetiva senão o prazer de destruir sem utilidade? R: Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus.” (Allan Kardec. O livro dos espíritos. Q. 735.)
“É então que, compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos da alma, prelúdios das alegrias celestes.” (Allan Kardec. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. 11).
“O orgulho levou o homem a dizer que todos os animais foram criados por sua causa e para satisfação de suas necessidades.” (Allan Kardec. A gênese. Cap. 7, it. 32).
“A Natureza é sempre o livro divino, onde as mãos de Deus escrevem a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem, evolvendo constantemente com o esforço e a dedicação de seus discípulos.” (Emmanuel. O consolador. Q. 27).
“Em todos os reinos da Natureza palpita a vibração de Deus, como o Verbo Divino da Criação Infinita; e, no quadro sem-fim do trabalho da experiência, todos os princípios, como todos os indivíduos, catalogam os seus valores e aquisições sagrados para a vida imortal.” (Emmanuel. O consolador. 28).
“[…] é indispensável considerarmos a utilidade de uma advertência aos homens, convidando-os a examinar detidamente os seus laços de parentesco com os animais, dentro das linhas evolutivas, sendo justo que procurem colocar os seres inferiores da vida planetária sob o seu cuidado amigo. Os reinos da Natureza, aliás, são o campo de operação e trabalho dos homens, sendo razoável considerá- los mais sob a sua responsabilidade direta que propriamente dos Espíritos, razão por que responderão perante as Leis Divinas pelo que fizeram, em consciência, com os patrimônios da Natureza terrestre.” (Emmanuel. O consolador. 78).
“Auxiliemo-lo [o homem] a amar a terra, antes de explorá-la no sentido inferior, a valer-se da cooperação dos animais, sem os recursos do extermínio! Nessa época, o matadouro será convertido em local de cooperação, onde o homem atenderá aos seres inferiores e onde estes atenderão às necessidades do homem.” (André Luiz. Os mensageiros. Cap. 42).
“O respeito à Criação constitui simples dever.” (André Luiz. Conduta espírita. Cap. 33).
“A agressão ecológica, em forma de violência cruel contra as forças mantenedoras da vida, demonstra que o homem, em nome da sua liberdade, destrói, mutila, mata e mata-se, por fim, por não saber usá-la conforme seria de desejar”. (Joanna de Ângelis. O homem integral. Cap. 1).
“A vida é trabalhada por um princípio de Ética Divina, que não pode ser manipulada ao prazer da insensatez, sem que disso não decorram consequências imprevisíveis para os seus infratores”. (Joanna de Ângelis. Dias gloriosos. Cap. 9).
“O programa, no entanto, para o saneamento de tão perigoso estado de coisas, já foi apresentado por Jesus, o Sublime Ecólogo que em a Natureza, preservando-a, abençoando-a, dela se utilizou, apresentando os métodos e técnicas da felicidade” […] (Joanna de Ângelis. Após a tempestade. Cap. 3).
“Ama, portanto, pelo caminho, quanto possas – plantas, animais, homens, e te descobrirás, por fim, superiormente, amando a Deus.” (Joanna de Ângelis. Leis morais da vida. 2ª pt., cap. 1).
Fonte: https://www.febnet.org.br/portal/wp-content/uploads/2022/12/WEB-conscienciaecologica-26-06-23.pdf.
[1] A Campanha Espírita Permanente de Conscientização Ecológica (CEPCE) foi aprovada pelo Conselho Federativo Nacional (CFN), na reunião ordinária de novembro de 2022. À época intitulada Campanha Nacional Permanente de Conscientização Ecológica, teve seu nome alterado após sugestão da Comissão Regional Nordeste, tendo a mudança sido aprovada pelo CFN na reunião extraordinária de 16 de maio de 2023.
[2] MENDES, André Trigueiro. Espiritismo e ecologia. 5. ed. Brasília: FEB, 2022.
[3] Organização Mundial da Saúde, OMS, 1948. Constituição da Assembleia Mundial da Saúde.
[4] FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Conselho Federativo Nacional. O livro espírita e a sustentabilidade do movimento espírita. Brasília: FEB, 2020.
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