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Archive for maio \21\-03:00 2023

Por José Márcio de Almeida

As biografias de Allan Kardec (1804-1869) e Sigmund Freud (1856-1939), cada um a seu turno, são por demais interessantes e merecem uma análise comparativa.

Começaremos pelos traços que lhe eram comuns, notadamente aqueles que dizem respeito às suas respectivas formações acadêmicas e filosóficas: ambos se filiaram e foram expoentes do movimento positivista – doutrina formulada pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-1857); os dois também dedicaram especial atenção à teoria da evolução das espécies proposta pelo naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). Em ambos, o rigor na utilização do método científico e o exame, das matérias, ao crivo da mais reta e firme razão.

Freud nasce em Freiberg, na Morávia – então uma província do Império Austro-Húngaro – em 06 de maio de 1856; já Kardec nasce em Lyon, na França, em 03 de outubro de 1804. Ambos, ainda em tenra idade se mudam para as respectivas capitais de seus países: Freud para Viena e Kardec para Paris. Freud se forma médico pela Universidade de Viena e Kardec se forma pedagogo pelo Instituto de Yverdon, na Suíça.

Freud se casa com Martha Bernays e ficam casados de 1886 a 1939 e tem seis filhos: Mathilde (nascida em 1887), Jean Martin (nascido em 1889), Oliver (nascido em 1891), Ernst (nascido em 1892), Sophie (nascida em 1893) e Anna (nascida em 1895). Kardec, por sua vez, se casa com Amélie Gabrielle Boudet e ficam casados de 1832 a 1869 e o casal não terá filhos.

Considerando que Kardec nasce em 03 de outubro de 1804 e Freud em 06 de maio de 1869, o período de vida comum entre eles foi relativamente curto: apenas 13 anos – de 06 de maio de 1856 (nascimento de Freud) a 31 de março de 1869 (morte de Kardec).

Kardec foi um homem do século XIX; Freud um homem dos séculos XIX e XX. Ambos foram fortemente influenciados pelos pensamentos científico e filosófico de seus tempos e deixaram, cada um em sua esfera de atuação e pesquisa, um enorme legado para as futuras gerações: Freud nos legou a Doutrina Psicanalítica ou Psicanálise; Kardec a Doutrina Espírita ou Espiritismo.

Kardec teve em Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) o seu grande mentor intelectual; Freud, por sua vez, vai encontrar em Jean-Martin Charcot (1825-1893) o seu, digamos, iniciador.

Freud tem em “A Interpretação dos Sonhos”, de 1900, a sua obra-prima; Kardec a tem em “O Livro dos Espíritos”, de 1857.

Um dado interessante nas respectivas biografias é o fato de que ambos, cada um segundo razões que lhes foram muito próprias, promoveram, ou a alteração da grafia do nome ou a utilização de um pseudônimo.

Kardec nasceu Hippolyte Léon Denizard Rivail; Freud, Sigismund Schlomo Freud. Freud muda a grafia de seu nome: de Sigismund para Sigmund; Rivail passa a utilizar o pseudônimo Allan Kardec.

De início Freud atribui a Josef Breuer (1842-1925) a criação da Psicanálise – “A Psicanálise não é criação minha”, diz em “Cinco Lições de Psicanálise” (1909, p. 16) –, ao passo que Kardec atribui à plêiade de Espíritos que o secundaram a autoria da obra, reservando, para ele, o papel de Codificador dos ensinamentos – revelações – transmitidos.

Outro traço que destacamos nas biografias desses dois vultos é o fato de que se referiram às suas respectivas obras se valendo de um símbolo. Para Freud a Psicanálise – com a proposição do inconsciente – provoca a terceira ferida narcísica da Humanidade: a primeira se deu com Nicolau Copérnico (1473-1543) que destronou o homem do centro do Universo; a segunda com Darwin que incluiu o homem na esteira da evolução das espécies. Para Kardec a Doutrina Espírita se reveste do caráter de ser a terceira revelação das leis de Deus ou o consolador prometido por Jesus. Ambas as doutrinas, encontraram, no Brasil, terreno fértil para germinarem e se consolidarem.

Ainda destacamos o fato de que ambos foram vítimas da intolerância religiosa e tiveram suas obras queimadas em praça pública: primeiro, Kardec, em 09 de outubro de 1861, na cidade de Barcelona, Espanha – evento que ficou conhecido como o “Auto de fé de Barcelona” – e depois, Freud, em 10 de maio de 1933, na cidade de Berlim, Alemanha – quando os nazistas promoveram um auto de fé com vários textos de vários autores judeus por eles considerados “nefastos”: Freud, Marx, Einstein, Kafka, dentre outros.

As pedras angulares dos dois edifícios doutrinários são, para a Psicanálise, o inconsciente, e, para a Doutrina Espírita, a reencarnação. Aliás, esses são os dois pontos de grande interface entre elas. A reencarnação é para a Doutrina Espírita o que o inconsciente é para a Psicanálise: um princípio fundamental.

A reencarnação, a exemplo do inconsciente que não foi uma “criação” de Freud, não foi um enunciado primeiramente formulado por Kardec. A ideia da reencarnação de todo o sempre existiu e nas mais variadas e antigas tradições filosóficas e/ou religiosas, sobretudo, as orientais. Como aconteceu com Freud com o inconsciente, a Kardec coube observar e fazer os “ajustes necessários” ao conceito de reencarnação.

O inconsciente é a “parte mais arcaica do aparelho psíquico”, sendo constituído por conteúdos reprimidos e que não têm acesso direto aos sistemas pré-Consciente e consciente, “local” onde “as pulsões que, nele se configuram, são regidas pelo princípio do prazer, em busca da satisfação do desejo, alheios à realidade e à moral”.

A reencarnação significa, literalmente, o retorno ao corpo carnal ou corporal, o renascimento do Espírito ou da alma para, assim, seguir a sua trilha evolutiva. Também denominada transmigração das almas ou multiplicidade das existências. Considerando que a individualidade – Espírito ou alma – guardam todo o conteúdo adquirido nas existências anteriores, estes conteúdos são trazidos em forma latente para a nova reencarnação e ficam armazenados, exatamente, no inconsciente. Em outra oportunidade iremos desenvolver melhor o tema e essa interface profunda entre a Psicanálise e o Espiritismo.

Caminhando para o desfecho destes breves traços biográficos, lembraremos que Freud morre ─ desencarna ─ em Londres, no dia 23 de setembro de 1939 aos 83 anos vítima de um câncer na mandíbula. Já Kardec desencarna em Paris, no dia 31 de março de 1869, vítima, ao que tudo indica, de um aneurisma.

Freud e Kardec, com suas respectivas vidas e obras e cada uma a seu modo e segundo o seu tempo, marcaram de forma decisiva a sua passagem pela história humana. Aqui no Brasil, tanto a Psicanálise quanto o Espiritismo, fazem parte do cotidiano popular, seja pelo uso sistemático ─ nem sempre adequado ou correto ─ de seus conceitos, conteúdos e práticas.

E, para fechar, duas citações.

“Olhe para dentro, para as suas profundezas. Aprenda primeiro a se conhecer” (Freud).

“Os homens semeiam na terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza” (Kardec).

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Por Mônica Buonfiglio

Nosso Lar, o livro psicografado por Chico Xavier na década de 40, que virou filme […], foi ditado pelo espírito André Luiz e ainda hoje é considerado uma das melhores obras espíritas. Ele retrata a vida após a morte de um médico. Aborda, sobretudo, temas como as leis do karma e dharma, da causa e efeito.

Emmanuel, mentor de nosso saudoso Chico, explica aos leitores na introdução da obra que a doutrina espírita não deve apenas investigar fenômenos, aderir verbalmente, melhorar a estatística, doutrinar consciências alheias e conquistar favores da opinião. É indispensável, também, aplicar o que se aprende nos serviços do bem. Ele também não nos informa quem é o espírito André Luiz, porém, deixa claro que é um irmão na eternidade que necessitou despojar-se de todas as convenções, inclusive a do próprio nome, para não ferir corações amados, envolvidos ainda nos velhos mantos da ilusão.

A mensagem espiritual é transmitir que o intercâmbio com o invisível é um movimento sagrado, e a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria consciência. No caso, edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal. Também faz lembrar que a Terra é uma oficina sagrada, e que ninguém pode menosprezá-la sem conhecer o preço do terrível engano a que submeteu o próprio coração.

Guarde a experiência da leitura do livro ou do filme. Ambos nos ensinam que não basta à criatura apegar-se à existência humana. Precisa saber aproveitá-la dignamente. E que os passos em qualquer escola religiosa devem dirigir-se verdadeiramente ao Cristo. Mais: que em nosso campo doutrinário, precisamos na verdade, do espiritismo e do espiritualismo para chegarmos à verdadeira espiritualidade.

A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões. O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso.

Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o oceano eterno da sabedoria.

Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiadamente simples. Permutar a roupagem física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem a ver com as soluções profundas do destino e do ser. Oh! Caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração! É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da vida eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!

Seria extremamente infantil a crença de que o simples “baixar do pano” resolvesse transcendentes questões do infinito. Uma existência é um ato. Um corpo – uma veste. Um século – um dia. Um serviço – uma experiência. Um triunfo – uma aquisição. Uma morte – um sopro renovador. Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda? E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais como se existissem posições definitivas!

Ai! Por toda parte, existem os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito! É preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira – ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas. Muito longa, portanto, é nossa jornada laboriosa. Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma idéia dessa verdade fundamental.

Grato, pois, meus amigos! Manifestamo-nos, junto a vós e de outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a idéia da eternidade. Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar. Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que “o espírito sopra onde quer”.

E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração.

Que o Senhor nos abençoe.

Fonte:

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/esoterico/nosso-lar-e-sinonimo-de-verdadeiro-espiritualismo,1a1863337df6d310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

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