A glândula pineal é bastante citada na literatura espírita, mormente nas obras psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier, ditadas pelo Espírito cognominado André Luiz. Porém, independentemente da questão espírita, essa glândula também tem sido objeto de pesquisa das ciências médicas, em especial nos últimos 60 anos.
Há muito que a pineal tem sido objeto de especulação entre os estudiosos e pesquisadores do corpo humano, chegando a chamar a atenção de Galeno, médico do imperador Marco Aurélio, no século II d.C.
No entanto, somente em 1958 ela veio a ser estudada pela ciência moderna, lembrando que, muitos anos antes disso, a epífise, como era chamada, já tinha sido referenciada, como já dito, nas obras psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier na década de 1940.
Por tratar-se de uma glândula de interesse tanto material, pela ciência moderna, quanto espiritual, pelo estudo espírita, pensou-se em realizar uma revisão bibliográfica sobre o assunto.
Nesse sentido, esse trabalho tem por objetivo apresentar alguns resultados de artigos científicos sobre a referida glândula, complementando com alguns relatos trazidos pela psicografia de Chico Xavier.
Segundo o psiquiatra espírita Jorge Andrea (1990) a glândula pineal ou epífise já era conhecida pelos antigos. De acordo com esse autor a Escola de Alexandria estudava a pineal (Herophilus de Alexandria, 330 a.C) relacionandoa com questões religiosas. Os gregos, por sua vez, a conheciam como conárium (termo cunhado por Galeno) e os latinos, por pinealis (termo que significa cone de pinha). Ambos acreditavam ser a pineal, o centro da vida.
Corroborando as informações de Andrea (1990) Lucchetti et al (2010) também afirmam em seu artigo que as primeiras descrições detalhadas da pineal foram encontradas nos trabalhos de Galeno (131-200 d.C.). À época achava-se que essa glândula distribuía o chamado “spiritus animalis” pelo corpo, por isso o modelo de Galeno recebeu o nome de “modelo pneumático ventricular” por considerar ser hidráulico a sua natureza (López-Muñoz et al. 2010c apud Lucchetti et al, 2010).
A partir dessa publicação de Galeno o filósofo e matemático René Descartes (1596-1650) anunciou que a pineal era “o principal assento da alma”. “De acordo com Descartes, o spiritus animalis eram fluidos sutis, como partículas minúsculas e rápidas que circulavam através dos ventrículos cerebrais e nervos” (LUCCHETTI et al,2010).
No século XVIII essa proposta perde força quando Claude-Nicolas Le Cat anuncia que era o córtex cerebral, e não a pineal, a sede da alma (López-Muñoz et al2010 apud LUCCETTI et al, 2010).
No Brasil o pioneiro na investigação da glândula pineal foi o Dr. Ângelo Machado (1934-2020) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) seguido pelo Dr. José Cipolla Neto da USP (Universidade de São Paulo), pesquisador da fisiologia da glândula e, na área estrutural, o Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, também da USP.
Descoberta da ciência
Por muito tempo, até a metade do século XIX a glândula pineal foi considerada apenas como um órgão evolutivo vestigial, sem função definida. Somente no século XX é que sua natureza neuroendocrinológica foi finalmente confirmada.
López-Muñoz et al(2010) afirmam em sua pesquisa que no início do século XX surgiram publicações sobre o funcionamento da pineal, tendo sido confirmado apenas em 1958, quando isolou-se o hormônio melatonina, graças ao trabalho de Aaron B. Lerner e equipe da Universidade de Yale (EUA).
As pesquisas de Aaron Lerner, segundo López-Muñoz et. al (2010) revelaram que a pineal funciona como um “transdutor neuroendócrino”, transformando a informação captada pela retina, através da luz, em resposta hormonal, ou endócrina, sintetizando a melatonina. Esse hormônio, por sua vez, funciona como um “relógio biológico” do organismo.
Cipolla-Neto e Amaral (2018) elucidam em seu artigo que em 1958 a equipe de Aaron Lerner isolou o fator ativo da pineal, responsável em agregar grânulos de melanina dentro dos melanócitos, nomeando esse fator de melatonina. A partir de então inúmeras pesquisas foram realizadas e hoje é possível encontrar cerca de mais de 28 mil publicações a respeito da melatonina e suas diferentes funções, o que distingue a glândula pineal como de grande importância no organismo humano.
Funções da melatonina
É importante estudar sobre a melatonina, pois foi a partir desse hormônio que se descobriu a pineal, sua fonte de produção. Dentre as suas inúmeras funções destaca-se a principal, que é regular o ritmo de vários processos fisiológicos, participando do controle do relógio biológico humano.
Segundo Maganhin et al (2008) a melatonina participa também do sistema genital feminino, influenciando a função ovariana e a fertilidade, devido à sua interação com os esteroides sexuais, como o estrogênio.
Langer et al (1997) apud Maganhin et al (2008) afirmam que a melatonina é a molécula chave que controla o ciclo circadiano dos animais e humanos, sendo que na espécie humana, a maior concentração de melatonina ocorre durante a infância, caindo rapidamente antes do início da puberdade e sofrendo nova queda acentuada durante a senectude. Dessa forma, postula-se ainda que a melatonina teria papel importante durante o ciclo da vida, ou seja, no crescimento, no desenvolvimento e amadurecimento, bem como no processo de envelhecimento.
Essa molécula é derivada da serotonina, tendo como precursor o aminoácido triptofano. Maganhin et al (2008) em seu artigo comentam sobre a pesquisa do Dr. Reiter, realizada no Texas (EUA), na década de 1990, que apresentou evidências de que a melatonina também poderia atuar como antioxidante, combatendo radicais livres e protegendo o organismo.
Embora o conhecimento da ação da melatonina estivesse, por muito tempo restrito ao sistema nervoso central, Maganhin et al (2008) citam a pesquisa de Luboshitzky et al a qual apresenta evidências de que alterações nos níveis séricos de melatonina estejam relacionados com distúrbios da ovulação em mulheres. Eles acreditam, baseados nessa pesquisa de Luboshitzky et. al, que os níveis de melatonina possam influenciar os processos fisiológicos e neoplásicos do sistema reprodutor, apresentando a hipótese de que haja uma associação entre o crescimento neoplásico e a quantidade de melatonina. Os autores concluem ainda que há evidências de que a melatonina atue como modulador das respostas inflamatórias e imunológicas.
As evidências encontradas sobre a ação da melatonina como antioxidante levaram Wu e Swaab (2004) a pesquisarem sobre a sua importância no processo de envelhecimento e na doença de Alzheimer.
Outros trabalhos de pesquisa apresentados no artigo de Luccheti et al propõem outras funções para a melatonina como: adjuvante na terapia antidepressiva, propriedades anticonvulsivantes, sedativas, ansiolíticas e protetiva contra a osteoporose. Aparece também a relação entre distúrbios de alimentação (bulimia e anorexia) com a quantidade de melatonina, síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), dentre outras.
Outros trabalhos citados por Lucchetti et. al relacionam a função da melatonina com a glândula paratireoide, influenciando no metabolismo ósseo. Os autores chamam a atenção para o fato de essa glândula estar relacionada com a vida mental dos indivíduos, embora não haja um trabalho concludente a respeito.
Cipolla Neto e Amaral (2018) afirmam que a melatonina é uma substância miríade em consequência de suas múltiplas funções. A pineal não é armazenada. Ao ser produzida é liberada para a corrente sanguínea (onde está ligada à albumina) e para o fluido cefalorraquidiano, atingindo várias áreas do sistema nervoso central (SNC) e todos os órgãos periféricos, onde desencadeará diferentes efeitos por vários mecanismos de ação.
Embora muitos estudos ainda estejam sendo realizados não há dúvida de que a glândula pineal é de vital importância para o organismo humano, pois atua regulando fenômenos básicos de biologia celular em quase todos os tipos de células.
Glândula pineal em relação à espiritualidade
Semm et al (1980) sugerem em seu trabalho que a pineal seria a estrutura ideal para detectar os campos magnéticos que influenciam os sistemas biológicos, tanto do homem, quanto de outros vertebrados. Essa função seria possível devido ao fato de ser ela um órgão de cronometragem sensível à luz.
O Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, pesquisador da estrutura da glândula pineal, apresenta em seu artigo a hipótese de que essa glândula poderia agir como um transdutor psiconeuroendócrino, captando energias sutis que, além de trabalhar com a captação de campos magnéticos, se ligaria à função tempo dentro de seus mecanismos cronobiológicos.
Para Oliveira (2000) a pineal funcionaria como um sensor capaz de perceber o mundo espiritual e de coligá-lo com a estrutura biológica, chegando a afirmar que: “O estudo dos mecanismos físicos envolvidos no funcionamento dessa glândula são excelentes modelos experimentais para o estudo da relação do mundo espiritual com o mundo material.” (OLIVEIRA, 2000).
Francisco Cândido Xavier, notório médium psicógrafo, brasileiro, sob a influência do Espírito André Luiz, trouxe a lume uma coleção de livros narrando a vida na espiritualidade.
Em uma dessas obras o Espírito André Luiz, orientado pelo instrutor espiritual Alexandre, observa uma reunião mediúnica, quando um grupo de médiuns (pessoas sensíveis encarnadas) se prepara para dar passividade aos Espíritos (desencarnados), traduzindo suas comunicações.
André Luiz, que quando encarnado exercera a profissão de médico, observou atentamente as modificações no cérebro do médium e admirou-se com a luz crescente que percebia em sua epífise. “A glândula minúscula transformara-se em núcleo radiante e, em derredor, seus raios formavam um lótus de pétalas sublimes.” (XAVIER, 2015, p. 19). Surpreso frente ao fenômeno observado recebeu instruções do mentor Alexandre, que o acompanhava.
O mentor espiritual lhe informa que essa glândula não é um órgão morto, conforme alguns pesquisadores da Terra chegaram a supor, ao contrário, trata-se da glândula da vida mental, acordando no homem, no período da puberdade, as forças criadoras e funcionando como um laboratório de elementos psíquicos.
Xavier (2015) traz em sua psicografia, a informação de que a pineal, aos 14 anos recomeça a funcionar como fonte criadora e válvula de escapamento:
A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entregasse a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas em outra época, que reaparecem sob fortes impulsos. (XAVIER, 2015, p. 21).
A espiritualidade revela assim que o papel dessa glândula tanto está ligado aos fenômenos da emotividade, quanto ao papel de desatar os laços divinos da Natureza, que ligam uma existência à outra. A partir dela são produzidas unidades de força responsáveis em atuar nas energias geradoras das glândulas reprodutoras.
Segundo a instrução do Espírito Alexandre a André Luiz, a pineal tem ascendência sobre todo o sistema endócrino. Liga-se à mente por princípios eletromagnéticos do campo vital, comandando as forças subconscientes, submetendo-se à ação da vontade. Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais.
Em relação à questão espiritual essa glândula é fundamental no crescimento mental do homem e no enriquecimento dos valores da alma. Como uma unidade de força deve ser aproveitada e controlada no serviço de iluminação, refinamento e benefício da personalidade do ser humano.
Em outra obra dos mesmos autores, “Nos Domínios da Mediunidade”, o Espírito André Luiz é apresentado à irmã Celina durante uma reunião mediúnica prática. O Espírito Áulus informa a André que Celina acrisolara as faculdades medianímicas, aperfeiçoando-as nas chamas do sofrimento moral.
Ao observar o cérebro de irmã Celina, utilizando-se de aparelho da espiritualidade, o Espírito André Luiz visualizou células especializadas, com funções diversificadas, funcionando como detectores e estimulantes, transformadores e amplificadores da sensação e da ideia, semelhante a raios luminosos. Chamou-lhe a atenção o fato de a pineal estar brilhando como um pequenino sol azul.
Em outro livro, “Evolução em Dois Mundos”, o Espírito André Luiz apresenta a glândula pineal como um fulcro de energia de sensações sutis. Ela traduz e seleciona os estados mentais diversos, prenunciando as operações da mediunidade, de forma consciente ou inconsciente, nas quais os Espíritos encarnados e desencarnados se consorciam uns com os outros na mesma faixa vibratória.
“É nela, na epífise, que reside o sentido novo dos homens; entretanto, na grande maioria deles, a potência divina dorme embrionária.” (XAVIER, 2015). Lembrando sempre, de acordo com o Espírito Alexandre, que “…tudo é espírito, manifestação divina e energia eterna (…) todas as manifestações psicofísicas se derivam da influência espiritual.” (ibid)
Considerações finais
É possível concluir que pela quantidade de pesquisas realizadas sobre a melatonina e a glândula pineal, há um grande interesse, atualmente, em se compreender melhor a função e a importância de ambas para o organismo, o que já é possível demonstrar em alguns relatos de maneira satisfatória.
Mesmo assim, após as leituras realizadas dos artigos científicos e dos livros espíritas, percebe-se o quanto ainda falta pesquisar sobre essa glândula secretora da vida mental, ou, como se referiu Alexandre (Espírito), um laboratório de elementos psíquicos.
Cada dia mais e mais funções da melatonina, hormônio principal da pineal, são apresentadas ao mundo, através de pesquisas, sugerindo ser essa glândula, juntamente com o cérebro, o órgão mais importante do organismo humano.
O Dr. Sergio Felipe, como pesquisador da pineal sugere que mais pesquisas sejam feitas para se comprovar a relação do mundo espiritual com o mundo físico.
A descoberta da importância dessa glândula pela ciência material, 13 anos depois de ser publicada em uma série de livros psicografados, confirma a cientificidade do Espiritismo e sua proposta de mudança de paradigma frente à vida, que não cessa com a morte do corpo físico.
A espiritualidade, por sua vez, utilizando-se das mãos abençoadas de Chico Xavier levantou o véu, permitindo-se ver uma parte do iceberg que, metaforicamente, pode-se chamar de pineal devido à sua importância no organismo físico e espiritual.
Sugere-se que mais pesquisas e revisões sejam realizadas em relação a esse assunto de maneira que um dia seja possível responder à questão: por que essa glândula foi citada pelos Espíritos como a glândula da vida mental? Seria o pensamento uma “secreção magnética”, cuja fonte é a pineal? Que venham mais e mais pesquisas nessa área.
Epífise ou Pineal: a glândula da vida mental, por Carlos Gomes, da AME-Itajubá.
Referências:
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SANTOS, Jorge Andréa dos. Palingênese, A Grande Lei 4. ed. Petrópolis, RJ: Sociedade Editora Espiritualista F. V. Lorenz, 1990.
XAVIER, Francisco C., (André Luiz, Espírito). Missionários da Luz 45. ed. Brasília, DF: FEB, 2015.
_______. Nos Domínios da Mediunidade. 36. ed. Brasília, DF: FEB, 2017.
XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, W. (André Luiz, Espírito). Evolução em Dois Mundos 27. ed. Brasília, DF: FEB, 2017ª.
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