Yvonne do Amaral Pereira em seu livro Recordações da Mediunidade apresenta a possibilidade de os fenômenos mediúnicos ocorrerem desde a infância. No caso dela, a partir dos 29 dias de vida, num processo de letargia, quando quase foi enterrada vida, não fora as preces de sua mãe à Maria Santíssima.
A médium interpreta esse acontecimento como um sinal de que ela precisaria passar por provas e testemunhos que a vida lhe exigiria, por ter sido um Espírito rebelde em outra existência.
Ela continua sua interpretação dizendo: “ingressando na vida terrena para uma encarnação expiatória, eu deveria, com efeito, morrer para mim mesma, renunciando ao mundo e às suas atrações, para ressuscitar o meu Espírito, morto no pecado, através do respeito às leis de Deus e do cumprimento do dever, outrora vilipendiado pelo meu livre-arbítrio”.
Em sua primeira infância a autora já apresentava alguns fenômenos mediúnicos, como o desdobramento, que é quando o perispírito se distancia parcialmente do corpo físico. Aos quatro anos de idade já se comunicava com os Espíritos desencarnados, pela visão e audição, sendo para ela um fenômeno natural, porque os Espíritos lhe pareciam muito concretos, muito vivos.
Esse exemplo real é um ensinamento aos pais para que observem melhor o comportamento dos seus filhos e suas expressões verbais. Não raro se observa crianças na tenra idade comentar sobre avós ou tios desencarnados e serem advertidas pelos genitores quando, na verdade, deveriam ser ouvidas e o caso apreciado com outro olhar.
Para a criança, assim como para Yvonne, o fenômeno é visto com naturalidade, até que um adulto lhe coloque medo e a proíba de falar a respeito desse assunto. Esse tema foi bastante explorado no filme norte americano O Sexto Sentido (Shyamalan, 1999).
Isso não significa que se deva levar uma criança a um centro espírita para desenvolver a sua mediunidade. O próprio Kardec fez essa pergunta aos Espíritos (O Livro dos Médiuns, cap. XVIII): Será inconveniente desenvolver-se a mediunidade nas crianças? A que os Espíritos respondem: certamente, pois há o risco desses organismos ainda delicados sofrerem fortes abalos, além de superexcitar a sua imaginação.
No entanto, Kardec faz uma observação quanto às manifestações espontâneas da mediunidade em crianças. Nesses casos a criança comentaria, sem dar muita importância ao fato e com o passar do tempo acaba se esquecendo.
Se o fenômeno persistir, cabe aos pais ensinar-lhe o respeito aos Espíritos, encaminhá-las para as aulas de Evangelização Infantil que existem, geralmente, nos Centros Espíritas e não forçar jamais o seu desenvolvimento em trabalhos mediúnicos, até que estejam maduras para esse mister.
É bom lembrar que não se deve fantasiar esses fatos com ideias preconceituosas e sem fundamentos. Não classificar essas crianças como anjos, nem tampouco como demônios e nem mesmo como crianças especiais, já que se trata de um fenômeno inerente ao ser humano e não um “dom” ou privilégio. É importante introduzi-las também em O Evangelho no Lar com leituras apropriadas e esclarecedoras.
No caso de Yvonne ela explica da seguinte forma o fenômeno observado por ela na infância: “ao meu entender eram pessoas da família, e por isso, talvez, jamais me surpreendi com a presença deles. Uma dessas personagens era-me particularmente afeiçoada – eu a reconhecia como pai e a proclamava como tal a todos os de casa, com naturalidade”.
Corroborando o que os Espíritos disseram a Kardec sobre o esquecimento do fato, diz Yvonne: “tudo me parecia comum, natural, e, como criança que era, certamente não poderia haver preocupação de reter na lembrança o assunto daquelas conversações”. Ela tinha somente quatro anos de idade.
Aos oito anos, narra a médium, o fenômeno se repetiu. Desprendendo-se parcialmente do corpo físico, recebeu o primeiro aviso para se dedicar à Doutrina do Senhor e do que seria a sua vida de provações.
A pequena Yvonne participava do catecismo na igreja católica, impressionava-se com as imagens existentes na igreja e as pinturas dos vitrais. Sentia-se infeliz por lembrar-se de uma vida passada rica e cheia de atenções e desejos realizados, e agora tendo que viver uma nova vida com parcos recursos materiais, sem condições de atender-lhe as futilidades de outrora.
Foi nessa mesma época, aos oito anos de idade, que teve acesso ao seu primeiro livro espírita. Ela tinha muita fé, esperança e paciência na justiça divina, reforçadas pela Doutrina do Senhor.
Com o conhecimento do Espiritismo e ciente do cultivo dos fenômenos mediúnicos, que Yvonne obteve ajuda para superar as dificuldades que trouxera para essa reencarnação expiatória, como resultado de um passado espiritual desarmonizado com o bem.
Pelo que se pode perceber, Yvonne do Amaral Pereira foi, desde cedo, exemplo de médium que bem soube, de forma obediente e disciplinada, cumprir seu planejamento reencarnatório. Vale a leitura de seus livros como obra doutrinária.
Recordações do passado: um exemplo de mediunidade em criança, por Carlos Gomes (AME-Itajubá).
Referências:
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns (Trad. Evandro N. Bezerra). 2. ed. Brasília, DF: FEB, 2013.
PEREIRA, Y. A. Recordações da Mediunidade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
Há vasta literatura sobre o assunto.
Até os 7 anos, as crianças são propícias ao contato com a espiritualidade.